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“Outra característica que revela a seletividade da letalidade policial no Brasil é o perfil por raça/cor das vítimas. Analisando os dados com esse recorte temos uma dimensão do quanto o racismo estrutural se faz presente na vitimização por forças de segurança no Brasil”, destaca o estudo.
O recorte racial, trazido pela pesquisa, revela que a violência em São Paulo atinge de forma desproporcional as pessoas: as chances de uma pessoa preta ou parda ser morta pelas polícias é 3,5 vezes maior do que uma branca.
O entregador Gabriel Ferreira Messias da Silva, um jovem pardo de 18 anos, é parte dessa estatística. Ele foi morto por policiais militares do 4º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (BAEP), na Zona Leste de São Paulo, em novembro de 2024.
Segundo testemunhas ouvidas no processo, Silva ainda estava sem habilitação e a moto era recém-comprada. Na tentativa de fugir da abordagem, por receio de ter seu meio de transporte e ferramenta de trabalho apreendido, o jovem tentou fugir da abordagem. No entanto, ele se desequilibrou e caiu com o veículo ao entrar no cruzamento das ruas Belém Santos e Colônia Leopoldina.
De acordo com os autos, ainda no chão e com as mãos para cima, sem apresentar resistência de acordo com as pessoas que presenciaram a cena e ouvidas no processo, o sargento Ivo Florentino dos Santos, do 4º BAEP, disparou no peito esquerdo de Silva. O jovem chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital Ermelino Matarazzo.
Na delegacia, o sargento Ivo e o soldado Ailton Severo do Nascimento apresentaram a versão padrão das crônicas policiais: a de que Gabriel Silva teria apontado uma arma na direção dos agentes, que revidaram e dispararam contra o jovem, mas as testemunhas e a câmera corporal de um dos agentes foram essenciais para que a história tivesse um novo desfecho.
A câmera corporal de um dos policiais não registrou o momento em que uma suposta arma foi apreendida com Silva e o laudo pericial, obtido pela Agência Pública, também não concluiu que o revólver de calibre 38 pertencia ao entregador.
Ao analisar as imagens das câmeras corporais, as versões apresentadas pelos PMs e o depoimento de testemunhas, o juiz Renan Oliveira Zanetti, da 3ª Vara do Júri do Foro Criminal da Barra Funda, ordenou o afastamento dos agentes das atividades policiais, que hoje realizam funções administrativas, até a conclusão do caso.
Segundo a SSP, o inquérito policial militar foi concluído e relatado à Justiça Militar e “os policiais envolvidos permanecem afastados de suas funções. Paralelamente, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) conduz uma investigação sigilosa, com o objetivo de esclarecer integralmente os fatos”.
Depois de analisar os mais de 6 mil de casos de mortes em decorrência de intervenção policial, por todo o território brasileiro, o estudo concluiu que existem “disparidades regionais e a concentração das vítimas em segmentos específicos – como jovens negros do sexo masculino – expõem os limites das políticas públicas de segurança e reforçam a urgência de ações estruturantes voltadas à prevenção, à responsabilização e à proteção de grupos historicamente vulnerabilizados.”
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