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Dois anos e cinco meses após planejar um atentado à bomba no Aeroporto Internacional de Brasília, o bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa vive hoje em liberdade quase plena, acolhido por uma aposentada que sequer o conhecia pessoalmente. A história do homem condenado por terrorismo e posse ilegal de armas, revelada pela Veja, expõe como decisões judiciais e uma rede informal de apoio permitiram sua reintegração silenciosa à sociedade.
Preso na noite de 24 de dezembro de 2022, George Washington confessou ter instalado uma bomba em um caminhão-tanque com 60 mil litros de querosene estacionado nas proximidades do terminal aeroportuário. O artefato chegou a ser acionado, mas falhou. Segundo os investigadores, uma eventual detonação teria potencial para causar dezenas de mortes. “Estava preparado para a guerra”, disse à polícia. “Pronto para matar ou morrer”.
Declaradamente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, George Washington afirmou que seu objetivo era “aguardar o acionamento das Forças Armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo”. No apartamento e no carro do acusado, a polícia encontrou um arsenal: bombas semelhantes às instaladas no caminhão, fuzis, escopetas, pistolas, facas e centenas de munições. Ele havia viajado de Xinguara, no Pará, até Brasília em novembro de 2022 e frequentava o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército.
Condenado em 2023 a nove anos e oito meses de prisão, George Washington conseguiu acelerar sua progressão de regime ao participar de cursos de direção defensiva e logística, além de atividades de leitura. Em maio de 2024, passou ao semiaberto e obteve direito de trabalhar fora da prisão. No mês seguinte, garantiu também as saídas temporárias — os chamados “saidões”.
Sem vínculos em Brasília, foi necessário indicar um endereço fixo para usufruir do benefício. Uma mulher de 74 anos residente na cidade de Candangolândia, a 20 km do centro da capital, ofereceu abrigo ao condenado. Segundo relato técnico ao qual a Veja teve acesso, a aposentada declarou não conhecê-lo pessoalmente, mas aceitou hospedá-lo por influência de amigos em comum nas redes sociais. “Não sabe informar nada acerca da vida do sentenciado”, registrou a equipe psicossocial da Justiça.
Em outubro de 2024, George Washington recebeu ainda uma proposta de trabalho como auxiliar administrativo em um laboratório médico, responsável por organizar e transportar amostras para exames. A empresária que o contratou afirmou que sua empresa está engajada na ressocialização de presos e que ele seria o primeiro funcionário nessas condições.
No mês seguinte, um decreto presidencial editado por Lula — que reduziu penas e concedeu indultos a presos em determinadas condições — beneficiou George Washington. Ele teve mais de um ano de pena reduzido e, em fevereiro de 2025, a Justiça autorizou sua transição ao regime aberto, sob prisão domiciliar. Como o Distrito Federal não dispõe de estabelecimentos específicos para esse regime, foi autorizado a permanecer na casa da aposentada — sem uso de tornozeleira eletrônica.
Na próxima segunda-feira (2), George Washington viajará a Belém (PA), com autorização judicial, para tratar de “assuntos profissionais”. Será a primeira viagem desde a tentativa de atentado que quase transformou o aeroporto da capital brasileira em palco de uma tragédia.
Gleisi fica indignada
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais neste sábado (31) para manifestar indignação diante da liberdade concedida ao bolsonarista. Em tom firme, a ministra alertou para o risco de subestimar a organização da extrema-direita no país.
“O caso é estarrecedor”, escreveu Gleisi em seu perfil no X (antigo Twitter). “Os golpistas continuam muito bem articulados para proteger seus agentes, inclusive os que planejaram assassinar inocentes em massa na véspera do Natal. Continuam ameaçando a sociedade e a democracia e até conspirando com autoridades de um país estrangeiro para punir ministros do STF que julgam seus crimes.”
A crítica da ministra veio após a divulgação de reportagem da Veja, que revelou que George Washington, condenado em 2023 a nove anos e oito meses de prisão pelos crimes de explosão e porte ilegal de armas, já se encontra em prisão domiciliar — sem tornozeleira eletrônica — e conta com o apoio de uma rede de acolhimento ligada a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Gleisi destacou que o próprio réu confessou à Polícia estar “preparado para a guerra” e desejava que as Forças Armadas impedissem a posse do presidente Lula, em nome de um suposto combate ao comunismo. “Embora a motivação política do plano terrorista fosse evidente, ele foi condenado pela Justiça do Distrito Federal somente pelos crimes de explosão e contra a Lei do Desarmamento”, criticou.
A ministra também denunciou a impunidade no tratamento dos atos golpistas e defendeu punição rigorosa: “Com a extrema-direita não se pode vacilar. Têm de responder por seus crimes. Sem anistia.”
George Washington foi preso em flagrante após tentar explodir um caminhão-tanque com 60 mil litros de querosene no aeroporto da capital. O artefato falhou, mas a perícia indicou que, se tivesse funcionado, poderia ter causado uma tragédia de grandes proporções. No veículo e no apartamento do bolsonarista, foram encontrados explosivos, armas de grosso calibre, munições e material paramilitar.
A libertação de George Washington, agora autorizado inclusive a viajar a trabalho, reacende o debate sobre a complacência do sistema de Justiça com os agentes da tentativa de golpe de 2022. Para Gleisi, é necessário manter a vigilância e garantir que nenhum atentado à democracia passe impune. Confira:
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