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“Ainda estou aqui”, de Walter Salles, é a primeira produção brasileira a ganhar o Oscar. O longa recebeu a estatueta de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo (2/3), durante a 97ª edição da premiação.
“Obrigado em primeiro lugar em nome do cinema brasileiro. É uma honra receber esse prêmio num grupo tão extraordinário de cineastas. Dedico esse prêmio a uma mulher que depois de uma perda durante de um regime autoritário decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio é dedicado a ela, Eunice Paiva. Dedico às duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. É uma coisa extraordinária. Muito obrigada”, disse o diretor Walter Salles ao receber o prêmio.
“Ainda estou aqui” superou o dinamarquês “A garota da agulha”, a animação letã “Flow”, o alemão “A semente do fruto sagrado” e o francês “Emilia Pérez”, duramente criticado por representar mexicanos estereotipados e relativizar o sofrimento de parentes das vítimas dos crimes perpetrados por cartéis de droga locais.
Inicialmente queridinho da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com o maior número de indicações nesta 97ª edição do Oscar (13 no total), “Emilia Pérez” caiu em desgraça depois que posts xenófobos e racistas feitos no passado pela intérprete da personagem-título, a espanhola Karla Sofía Gascón, vieram a público no final de janeiro.
Em janeiro de 1971, o ex-deputado federal Rubens Paiva, marido de Eunice, foi preso por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), levado para o quartel da Força Aérea Brasileira, no Rio de Janeiro, e, depois, para os porões do DOI-CODI, onde foi torturado e morto.
Dias depois, Eunice também foi presa junto da filha Eliana, de 15 anos, e levada para o mesmo local onde os militares mantinham Rubens Paiva. Ela foi liberada 12 dias depois e nunca mais teve notícias do marido, a não ser um posicionamento cínico e mentiroso do Exército defendendo a tese de que Rubens Paiva fora sequestrado por guerrilheiros quando era transportado para outro presídio. Eunice dá, então, início a uma jornada para fazer o Estado Brasileiro reconhecer a morte de Rubens Paiva, o que ocorreu somente em 1996.
Salles conta a saga dessa matriarca sem recorrer a demonstrações explícitas de violência. Trata-se do filme de uma família feito em família (Torres divide o papel de Eunice com a mãe, Fernanda Montenegro) e para as famílias. Não à toa, levou tantos brasileiros para o cinema.
“Ainda estou aqui” estreou em 7 de novembro do ano passado e já atraiu mais de 5 milhões de espectadores. É a produção nacional que chegou ao maior número de cidades do Brasil nos últimos sete anos, sendo exibido em 420 das 439 cidades com salas de cinema do país
O longa estreou no Festival de Veneza, em setembro passado, onde recebeu o prêmio de roteiro. Depois disso, foi convidado para aproximadamente outros 50 festivais. Venceu ao menos 38 prêmios, entre eles o de Melhor Filme pelo júri dos festivais de Roterdã, de Miami, de Vancouver, de Pessac, na França; de Mill Valley, nos Estados Unidos; e da Mostra de São Paulo.
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